domingo, 10 de julho de 2011

Os doze passos na dependência química


A E CARL GUSTAV JUNG

“O VALOR DA VIDA”

To William Griffith Wilson
Alcoholics Anonymous
EUA
30.01.1961


Der Mr. Wilson,                                                                                           
Sua carta foi muito bem vinda. Nunca mais tive noticias de Roland H. e às vezes me pergunto como ele estaria passando. Minha conversa com ele, que corretamente lhe contou, teve um aspecto que ele não conhecia. A razão foi que eu não podia dizer-lhe tudo. Naquele tempo eu tinha que ser extremamente cauteloso em tudo que dizia. Descobri que eu era mal interpretado em todos os sentidos. Por isso fui muito cauteloso ao falar com Roland H. Mas o que realmente levei em consideração foi o resultado de muitas experiências com homens de seu tipo.
Sua ansiedade por álcool corresponde, num nível mais baixo, à sede espiritual do ser humano pela totalidade, expressa em linguagem medieval: a união com Deus.
Como formular semelhante entendimento numa linguagem que não fosse mal interpretada hoje?
O único caminho correto e legítimo para tal experiência é que ela nos acontece realmente, e só pode acontecer-nos quando caminhamos numa trilha que nos leva a uma compreensão mais elevada. Podemos ser levados a este objetivo por um ato da graça e por meio de um contato pessoal e honesto com amigos ou através de uma educação superior da mente, além dos limites do mero racionalismo. Vejo por sua carta que Roland H. escolheu o segundo caminho que foi, sob as devidas circunstâncias, obviamente o melhor.
Estou fortemente convencido de que o princípio do mal que prevalece neste mundo leva a necessidade espiritual não reconhecida à perdição, se não contar com a contra-reação de uma atitude verdadeiramente religiosa ou com a parede protetora da comunidade humana. Uma pessoa comum, não protegida por uma ação do alto e isolada da sociedade, não pode resistir ao poder do mal, que é chamado apropriadamente de demônio. Mas o uso de tais palavras faz surgir tantos erros que é melhor manter-se longe delas ao máximo.
Eis as razões por que não pude dar a Roland H. a explicação cabal e suficiente. Mas ao senhor eu confio porque concluo de sua carta, muito decente e honesta, que o senhor formou uma opinião sobre os chavões errôneos que se ouvem sobre o alcoolismo.
Veja o senhor: álcool em latim é spiritus, a mesma palavra para a experiência religiosa mais elevada e também para o veneno mais prejudicial. A fórmula benéfica é pois: spiritus contra spiritum.
Agradeço novamente sua gentil carta.
I remain
Yours sincerel,
C. C. Jung 

William Griffith Wilson, 1896-1971, foi um dos fundadores da associação, originalmente americana, e depois mundial, dos “alcoólicos anônimos” (AA). A fundação ocorreu em 1934. Sua carta a Jung (23.01.1961) e a resposta acima foram publicadas na revista mensal AA Grapevine. The International Monthly Journal of Alcoholics Anonymous, em janeiro de 1963 e novamente em janeiro de 1968. Em sua carta, Mr. Wilson mencionou o caso do alcoólico Roland H., que foi analisado por Jung e cuja cura contribuiu para a fundação da associação: após tentativas frustradas de cura, a análise de um ano e levou uma cura momentânea. Após um ano, Roland H. recaiu e procurou Jung de novo (1931). Este lhe explicou a inutilidade de um tratamento psiquiátrico no seu caso; somente uma experiência religiosa ou espiritual poderia livra-lo de sua situação desesperadora. A observação de Jung, feita com cautela, revelou-se correta. Após uma “conversion experience” no seio da “Oxford Group” Roland H. ficou definitivamente curado.  Através de um amigo comum curado da mesma maneira, o destinatário soube disso e teve ele mesmo uma experiência religiosa curadora bem como a visão de um grupo de alcoólicos que contavam suas experiências espirituais uns aos outros. Isto levou à fundação da “Society of Alcoholics Anonymous”. Depois da morte do destinatário descobriu-se o seu verdadeiro nome; Em vida era conhecido apenas como “Bill W.”.
Cartas. Volume III.  Carl Gustav Jung.  Ed. Vozes.


OS DOZE PASSOS DO NA

1) ADMITIMOS QUE ÉRAMOS IMPOTENTES PERANTE NOSSA ADICÇÃO, QUE NOSSAS VIDAS TINHAM SE TORNADO INCONTROLÁVEIS.

2O ) VIEMOS A ACREDITAR QUE UM PODER MAIOR DO QUE NÓS PODERIA DEVOLVER-NOS À SANIDADE.

3) DECIDIMOS ENTREGAR NOSSA VONTADE E NOSSAS VIDAS AOS CUIDADOS DEDEUS, DA MANEIRA COMO NÓS O COMPREENDÍAMOS.

4) FIZEMOS UM PROFUNDO INVENTÁRIO MORAL DE NÓS MESMOS.

5) ADMITIMOS A DEUS, A NÓS MESMOS E A OUTRO SER HUMANO A NATUREZA EXATA DAS NOSSAS FALHAS.

6) PRONTIFICAMO-NOS INTEIRAMENTE A DEIXAR QUE DEUS REMOVESSE TODOS ESSES DEFEITOS DE CARÁTER.

7) HUMILDEMENTE PEDIMOS A ELE QUE REMOVESSE NOSSOS DEFEITOS.

8) FIZEMOS UMA LISTA DE TODAS AS PESSOAS QUE TÍNHAMOS PREJUDICADO, E DISPUSEMO-NOS A FAZER REPARAÇÕES A TODAS ELAS.

9) FIZEMOS REPARAÇÕES DIRETAS A TAIS PESSOAS, SEMPRE QUE POSSÍVEL, EXCETO QUANDO FAZÊ-LO PUDESSE PREJUDICÁ-LAS OU A OUTRAS.

10) CONTINUAMOS FAZENDO O INVENTÁRIO PESSOAL E, QUANDO ESTÁVAMOS ERRADOS, NÓS O ADMITÍAMOS PRONTAMENTE.

11O ) PROCURAMOS, ATRAVÉS DE PRECE E MEDITAÇÃO, MELHORAR NOSSO CONTATO CONSCIENTE COM DEUS, DA MANEIRA COMO NÓS O COMPREENDÍAMOS, ROGANDO APENAS O CONHECIMENTO DA SUA VONTADE EM RELAÇÃO A NÓS, E O PODER DE REALIZAR ESTA VONTADE.

12) TENDO EXPERIMENTADO UM DESPERTAR ESPIRITUAL, COMO RESULTADO DESTES PASSOS, PROCURAMOS LEVAR ESTA MENSAGEM A OUTROS ADICTOS, E PRATICAR ESTES PRINCÍPIOS EM TODAS AS NOSSAS ATIVIDADES.

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